O telemóvel é algo cada vez
mais presente na nossa sociedade, e não falamos em mundo porque há povos que
estão a anos-luz, para não dizer séculos, da nossa forma de vida num mundo tão
globalizado mas com tantas, e gritantes, diferenças.
O telemóvel mais que aquele
aparelho maravilhoso que nos permitia estar contactável em todo o lado,
libertando-nos das grilhetas do telefone fixo, tornou-se num autêntico faz
tudo, sendo indispensável à nossa vida diária.
Mas quando falamos em
indispensável voltamos ao início deste texto pois povos há que desconhecem por
completo o telemóvel e muitos outros conceitos do mundo civilizado até,
pasme-se, o dinheiro e conseguem viver sem todas essas coisas consideradas como
dados adquiridos no, pretensamente, mundo civilizado. Provavelmente até vivem
mais felizes, mais em harmonia com a natureza e numa sociedade mais justa que a
nossa mas isto é outra conversa.
Mas se o telemóvel nos veio
libertar das amarras do telefone fixo por um lado, veio-nos prender por outro!
O normal para início de qualquer conversa para telemóvel não é o como estás mas
sim o onde estás!
Parece que deixamos de ter
vida própria e somos obrigados a estar sempre contactáveis em qualquer lugar, a
qualquer hora.
Confessamos que sempre nos fez
confusão aquelas pessoas que expõem toda a intimidade da sua vida em grandes,
prolongadas e sonoras conversas em transportes públicos, em restaurantes e sem
contar com a tremenda falta de educação que é atender os telemóveis em cinemas,
teatros, concertos, etc.
No uso que fazemos do
telemóvel temos sempre o cuidado de quando queremos ter uma conversa mais
prolongada e pessoal faze-lo quando a pessoa está no recato da sua casa e no
restante o telemóvel serve para recados urgentes e rápidos em que é mesmo
vantajoso poder contactar a pessoa em qualquer lado.
Também na corrida o telemóvel
veio revolucionar tudo, para já com as suas funções “faz tudo” pode ser usado
para ouvir musica, controlar o treino, fazer fotos e vídeos etc.
Temos que admitir que a nível
da segurança, quer em treinos em locais mais inóspitos e complicados, quer em
provas de trail longo (em muitas o seu uso já é obrigatório) o telemóvel faz
toda a diferença. Também admitimos que receber e responder a mensagens de
amigos em trails longos, e mesmo fazer uma ou outra chamada, pode ajudar muito
a vencer a dureza dos trails e a reduzir a angústia de quem está preocupado com
a forma como se está a desenrolar a nossa prestação e se estamos em segurança.
Quanto à capacidade de tirar belas fotos e vídeos é algo de que gostamos muito
pois sem isso não teríamos a blogosfera corredora cheia de relatos de grandes
provas de trail, acompanhadas de belas fotos (pese embora uma pequena máquina
digital represente um peso quase insignificante no equipamento de um corredor
de trail e tenha outra qualidade sempre superior à câmara de um telemóvel). Já
o uso do telemóvel para controlar o treino confessamos que preferimos o uso de
um relógio com GPS e quanto a ouvir musica no treino é algo que nunca nos seduziu.
Começámos a correr no início
da década de 80 do século passado sendo na altura corredores urbanos e o
conceito que havia de segurança a nível de treinos longos era levar dinheiro,
nomeadamente uma nota, nos calções a fim de apanhar um transporte de volta para
casa em caso de problemas com o treino!
Confessamos que nunca o
fizemos! Maratonistas e ultra maratonistas sempre adoraram a sensação, única,
de estarmos longe de casa e termos que voltar, fosse como fosse, tendo apenas
por base as nossas pernas.
Quando vivíamos em Lisboa
dizíamos, para algum desespero de familiares e amigos, que se a “coisa” desse
para o torto nos deitaríamos para o chão e alguém haveria de chamar o 112! Mas
sempre voltámos ao ponto de partida em treinos curtos ou longos! Às vezes não
foi fácil!...
Ao virmos viver aqui para o
Ribatejo adoptámos outra teoria, para grande desespero e angústia da minha
companheira, se houver azar esperamos que passe algum tractor e pedimos boleia!
Aqui para nós que ninguém nos
ouve temos de confessar que há locais em que esse tal tractor iria demorar uma
eternidade a passar se é que passava!
Mantivemo-nos fieis as estas
teorias, nada aconselháveis a nível de segurança, durante muito tempo e sempre
longe de levar um telemóvel para o treino!
Para nós correr é um acto
solitário, libertário, um tempo só nosso em que cortamos o cordão umbilical com
o mundo e que seria estragado se houvesse qualquer possibilidade de contacto
com esse mesmo mundo!
Para nós o que faz o corredor
de fundo é também o isolamento, o depender de apenas e tão somente de ele
próprio!
Mas depois de muitos anos a
sentir as angústias da minha mulher comecei o ano passado a levar telemóvel no
bolso dos calções em corridas longas! Para o efeito uso um pequeno e leve
aparelho, daqueles absolutamente básicos, e que apenas tem a função de fazer e
receber chamadas! Vai sempre desligado e esquecido no bolso dos calções e só
será usado no caso de uma verdadeira emergência coisa que, obviamente, espero
não vir a acontecer!
Confesso que pese embora a
minha relutância em relação a telemóveis em treinos esta é a medida mais
sensata até porque mesmo o terreno por aqui sendo pouco técnico, acidentes
acontecem e já que há tecnologia que pode ser usada nesses casos então que se
use! Lembro-me de uma vez ter torcido um pé num treino em Lisboa, num parque, e
ter voltado para o balneário (no INATEL) ao pé-coxinho e o que me valeu era ser
perto. Ora se me acontece um azar desses por aqui e longe de casa o telemóvel
pode mesmo ser útil
Está é a minha relação com o
telemóvel e os treinos: desligado no bolso dos calções e só em treinos longos
(ou se algum dia participar num trail longo).
Penso que é um conceito muito
diferente da “cena” que vi um dia na Corrida das Lezírias, em plena subida da
ponte de Vila Franca de Xira: um participante mal tinha fôlego para enfrentar a
subida a correr e ainda atendia o telemóvel e dizia, ou esforçava-se por dizer,
Olha, vou aqui na Corrida das Lezírias a subir a ponte de Vila Franca!
Definitivamente uma “cena” dessas não faz a minha “praia”!
E vocês amigos leitores desde
blogue que tiveram a paciência de chegar ao fim deste texto (!) qual é a vossa
relação entre o telemóvel e a corrida? Sempre contactáveis e com o aparelho
ligado? Desligado e em treinos mais longos? Usam-no para ouvir música no
treino? Socorrem-se do aparelho para controlar o treino? etc., enfim contem-nos
tudo!