A culpa é do Fernando Andrade!
Ora aqui está um daqueles
títulos, muito em voga em alguns jornais sensacionalistas e muito pouco
rigorosos.
Mas como aqui queremos ser
rigorosos e justos (pelo menos tentamos) vamos lá ver qual é a culpa do
director da Meia Maratona de São João das Lampas.
Quando conheci o Fernando A. há
três anos estabeleceu-se logo uma empatia e amizade entre mim e esse GRANDE cidadão
de corrida.
Dessa amizade nasceu a minha ida
a São João das Lampas na versão mini.
Como já contei neste espaço,
dessa minha participação nasceu o desafio lançado pelo culpado Fernando
Andrade: “Para o ano é a grande!”.
E no ano passado, como já muitos
certamente leram aqui fui mesmo fazer a “grande”, mas o que foi mesmo
enorme foi a luta para acabar a prova e o “empeno” que apanhei!
Este ano (não tenho juízo) voltei
à Meia de São João das Lampas. mas este voltar tinha um se muito complicado.
A prova era na véspera à tarde da
Corrida da Festa do Avante, que se realizou domingo de manhã!
Vou confessar aqui uma coisa
publicamente: sou, assumidamente, bígamo!
Tenho dois amores! Os meus dois
amores são as Lampas e o Avante!
Impossível optar por uma em
relação à outra!
Impossível fazer essa maldade ao
Fernando Andrade, que era ir ao Avante e não ir às Lampas e a solução
contrária, também nunca a faria! Era uma ofensa aos meus amigos, fraternos e
solidários, empenhados num mundo mais justo e igualitário para todos, da Quinta
da Atalaia!
Solução para este problema de
bigamia?
No meu caso só via duas
possibilidades:
Não fazer prova nenhuma ou fazer
as duas!
Quem me conhece sabe bem que o
meu nível de performances atléticas está na razão inversa do meu juízo: cada
vez tenho menos capacidades atléticas mas cada vez estou mais “maluco”!
Optei por ir às duas provas!
Claro que não fui o único e houve
quem fizesse coisa ainda “pior”.
Mas se alguns nem têm coragem de
ir a São João das Lampas (atletas a sério, ao contrário do estropiado que
escreve estas linhas!...), outros fazem as duas provas mas são doutro
campeonato e aquilo não lhes custa mesmo nada.
Eu propunha-me fazer uma prova,
em que no ano passado acabei em extrema dificuldade. e cerca de 14 horas de
depois estar na Corrida do Avante.
NO TVG E A FUGA DO MESMO!
Para as Lampas tinha uma
estratégia fácil: criou-se um grupo via Facebook, (logo apelidado de “TVG das
2:30” pelo Fernando Andrade!) que se proporia fazer a prova para o tempo das
duas horas e meia.
O “maquinista” do TGV seria esse
grande atleta e homem fraterno que dá pelo nome de Joaquim Adelino, que
foi, desde a primeira hora, quem assumiu querer ter a gentileza de fazer a
prova comigo, além de me ter dado boleia para a prova e ainda se desviar do seu
percurso para casa no regresso, a fim me deixar perto da casa de um familiar,
onde eu pernoitei antes de ir para o Avante
A mim e ao Adelino juntou-se a Ana Pereira, uma das mais mediáticas participantes de blogosfera corredora e a
“mãe” da mesma!
Outro amigo que faria parte dessa
“TGV” seria o António Pinho e estava prometida a presença da Susana Adelino mas
ela, na partida, lembrou-se que era atleta que já ganhou provas, e foi por ali
fora, só tendo parado com uma subida ao pódio!
Outros amigos se juntaram a este
“comboio”.
A estratégia estava montada,
parecia “fácil” e lá fomos nós estrada fora.
Parti sempre na cauda do “TGV”, a
travar o mesmo com todas as cautelas.
Sou homem de partir sempre com
calma!
Ia tudo bem até começarem as
subidas, de princípio sem problemas. O pior veio depois:
aparece-me uma daquelas subidas
extremamente sensuais e provocantes, a piscar-me o olho, a dizer-me baixinho ao
ouvido: anda comigo, sei que tu gostas de mim, que até subias bem! Uma
autêntica provocação!
Quase que jurava que a subida
estava “feita” com o Fernando Andrade para me fazer aquilo!
Conclusão: com tanta sedução, eu
vou por ali acima e começo a afastar-me dos meus amigos do TGV! Eu não queria,
mas aquela subida era irresistível.
Depois, depois ainda tentei
recolocar-me junto deles, andei em ziguezague, aproveitei as descidas, que são
umas bruxas horrorosas de meter medo, para ver se travava e eles me apanhavam,
mas nada!
Acabei por desistir do TGV e ir à
minha vida mas sempre a tentar pensar que o Avante era “logo a seguir”.
Com tudo isto chego aos 12 km e a
São João das Lampas bem melhor que no ano passado (incomparavelmente melhor).
Daqui começam as contas dos
corredores de fundo, a parte psicológica a tentar enganar as pernas e a pensar:
ok, chegar aos 15 e depois entra-se em contagem decrescente.
Enfim não se pode dizer que foi
fácil o final porque as sedutoras subidas e as bruxas das descidas fazem o seu
estrago,
Faltava ali mais treino em
terreno acidentado e mais uns quilómetros nas pernas.
Mas deu para acabar a prova com
cerca de 10 minutos a menos que o ano passado e ainda entrar na meta feito
“maluco” a “fazer de avião”!
Como se faz uma prova vindo de
outra, que nos deixou em tal estado que de noite até se tiveram alguns ataques
de cãibras, enquanto se tentava dormir alguma
coisa?
Primeiro ir para a partida cheio
de medo do que ia acontecer, nem ter coragem para fazer alongamentos, ou
experimentar correr uns metros!
Depois partir estilo ai, ui, ai,
ai, mas que com o aquecimento lá se melhora um pouco.
Usar de muita calma, mas mesmo muito
calma, durante aqueles 11,340 km, sempre a ver se não se “partia” nada
especificamente, porque no geral já se estava todo partido!
Mas fez-se! Entrou-se na recta da
meta emocionalmente feliz, a saborear como nunca aquela recta!
Dezenas de atletas vinham em
sentido contrário, já com a sua prova terminada, alguns incentivavam o “coxo” e
eu ria-me, por dentro e por fora, e pensava: se soubessem de onde venho!
Aquela entrada no funil ao som do
“Venham Mais Cinco” do Zeca Afonso ia-me levando às lágrimas!
Quando tinha a mania que era
atleta, sempre me faltou a coragem de fazer uma coisa destas e agora falta-me o
físico mas sobra a maluquice!
MAS, E ONDE ESTÁ A CULPA DO
FERNANDO ANDRADE?
É verdade! Isso está mal
explicado!
A “culpa” dele é ser a alma e o
coração da melhor Meia Maratona de Portugal, há 36 anos!
Estou apaixonado por aquela
prova!
É uma paixão recente mas
avassaladora!
Quem pode não amar o carinho com
que cada atleta é recebido e tratado naquela meia maratona?
Amo aquele público que nos espera
e incentiva ao longo do percurso, as crianças que esticam a mão para lhe darmos
uma palmada, a paisagem, aquele percurso em oito que me deixa feito num oito,
aquelas rampas sedutoras e sensuais, a melancia que se come sofregamente no
final, aquela recta da meta, com tapete verde e os vasos, aquele pórtico (a
meta mais linda de Portugal), aqueles pequenos, grandes, pormenores deliciosos
como a colocação de dois relógios de cozinha aos 5 e aos 20 km (para a gente
saber a quantas ia!), a simpatia do pessoal do abastecimento, o isotónico dado
em copo aos 15 km, sem os patrocinadores nem os desperdícios das provas ricas
mas com dado com muito carinho, aquela passagem aos 12 km em São João das
Lampas que é das maiores provações psicológicas que conheço, amo o tanque do
“Joaquim Adelino” e aqui para nós que ninguém nós ouve até amo as bruxas das
descidas que dão cabo de mim!
Amo aquela prova e a paixão é
irracional! O grande culpado deste amor todo é, já sabem, o meu amigo FERNANDO
ANDRADE.
Claro que um barco não navega sem
tripulação, mas sem um excelente comandante nada feito!
AMIGOS MAIORES QUE O
PENSAMENTO:
As pernas e a loucura são minhas
mas este projecto não se teria concretizado sem três grandes amigos e eles são,
por ordem alfabética, Alex, João Lima e Joaquim Adelino.
*Foto retirada do Facebook de Vitor veloso*